Não há pesadelo que dure para sempre, basta apenas não alimentá-lo
A roda gira- o mundo roda, e as situações se invertem. Sabe, meu caro, outrora eu estava com a cara enfiada em um saco de pó da ilusão, atolado até os joelhos na lama putrefata da dor. Mergulhado em sangue alheio e em palavras vazias.
Tudo o que eu queria era fugir de mim mesmo, fugir do mundo, dos meus familiares e daqueles que se diziam amigos, mas na realidade não passavam de corvos a procura de carniça.
Carne em decomposição. Minha própria carne, fatiada e jogada aos cães. Cães do inferno que me arrastavam para o abismo branco, para a estranha escuridão.
Mas um dia acordei, da minha devassidão.
Eu estava todo sujo de sangue, com os braços cortados e os olhos tão abertos, porem eu nada podia ver. Era minha notória loucura, que corrompia todo o meu ser.
No espelho eu me via, mas não reconhecia aquele homem a me encarar.
Olheiras negras e profundas, cabelo desgrenhado, barba por fazer. A face do caos, do desgosto, do fenecer.
Eu estava sozinho. Não havia nada além de meus próprios fantasmas febris. E não era uma efêmera tristeza que eu estava por sentir. Afundei-me na lama e meu jeito execrável de ser apenas piorava. Bebia demais, causava dor e desespero, mas no fundo quem pedia ajuda era eu.
Não lembro quantas voltas em torno de mim mesmo eu tive que dar. Cai de joelhos e implorei ao diabo que me levasse. Mas ele nunca levava, não importava o quanto eu fizesse.
Eu me arrastei sozinho no vale da sombra da morte. Chorei, quis matar, me matei a cada dia um pouco mais.
Mas consegui sobreviver a minha própria derrota. Juntei cada pedaço e sai por ai. Meio despedaçado, mas tentado seguir.
Eu me senti sozinho, mas encontrei muitas mãos a me ajudar.
Eu vendi minha alma ao diabo e busquei de volta com as próprias mãos.
Venci meus próprios pesadelos.
Hoje não quero mais pensar no passado, apenas quero chegar no meu apartamento pequeno, alimentar meu cachorro, tirar minha botas e sentar na varanda, enquanto olho o sol ir embora e o céu enegrece.
Venci meus pesadelos, e ninguém tem nada a me dizer, nada que eu já não saiba. Nada que seja da conta deles.
Eu venci meu pesadelos. E você também pode vencer os seus...
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