(...)

É muito fácil.
Fazer poemas sobre a frieza da cidade grande.
Sobre os mendigos que reviram latas de lixo
Como cães
Sobre as crianças famintas
Vendendo seus sonhos
Por pedaços secos de pão.
É muito simples.
Erguer seu dedo em riste
E apontar defeitos alheios
E esbravejar contra o governo
Contra as pessoas da nação.
É comum julgar o medo do outro
E apontar o modo como eles fogem
Olhando para o chão
Da cidade em chamas.
Difícil
É dar um pouco de si
Por aquela criança que esmola no farol
Ajudá-la.
Pôr esperança
Em seus olhos
Vazios e perdidos
Na lama
Da grande metrópole.
Complicado
É olhar para si
E ver que também vende sonhos
Por bens materiais
Como todo ser humano.
Difícil é
Cumprimentar um estranho
Sem medo
De não ganhar um sorriso em troca.
Apenas pelo ato belo
De sorrir.
Quero ver,
É juntar os lixos do chão
E conscientizar o próximo
A fazer o mesmo.
É fácil ser o observador
Difícil é ser a mão que levanta do chão
Sujo
E poeirento
Da grande metrópole
Aquele pobre
Mendigo
Que parece não ter opção.
(...)
Acendo um cigarro
E vejo a cinza cair.
Olho pro lado
E vejo que
Isso [é uma poesia]
Que fala sobre hipocrisia.

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