Pois meus delírios também são cotidianos


Naquele outono eu era uma espécie de versão feminina de Bukowski, porém sem mulheres e sem o talento de descrever a rua da amargura, as cores da sarjeta e todo o caos dos infernos.
Eu bebia todos os dias e dividia meu tempo entre os afazeres domésticos da minha solitária casa e os poemas mais sórdidos e cáusticos possíveis, aqueles que descreviam a lama que minha existência havia se afundado.
Nas paredes, em papeis de pão, nas ruas, em todos os lugares possíveis eu deixava gritos mudos em forma de palavras. Mas ninguém se importa. Ninguém vê.
Provavelmente eu viraria uma notinha de falecimento do jornal da cidade e ninguém saberia quem eu fui ou o que eu fiz. Mas finalmente eu não me importava.
As pessoas eram todas iguais e eu as vigiava no escuro. E elas, me mentiam que eu tinha algum valor.
Mas tanto faz...
Eu permanecia, naquela mesma rotina, engolindo corticoides para asma, fumando cigarro vagabundo por mero vício. Eu não me medicava na expectativa de me curar e sim para sobreviver. 
Tomava alguns antiácidos, pois meu estomago estava cada vez mais destruído pela bebida naquele outono.
E por fim, saia pelos bares solitária bebendo cerveja nas sextas para diferir do vinho diário. Do caos diário. Do ódio diário de existir...


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