Beladona
Foi só unir os fatos.
Eu estava viajando a trabalho. Ficaria dois meses em outro
estado. Naquela época eu namorava. Um rapaz bonito de olhos verdes e sorriso
perturbador. Trocávamos juras de amor e tudo indicava que casaríamos no fim do
ano. Fernando era o nome dele.
Apenas uma coisa me incomodava: uma menina que se dizia
melhor amiga dele. Por mais que ele dissesse que não falava com ela, ela vivia
me provocando nas redes sociais dando a entender que eles ainda se falavam e
com freqüência. Ela era bonita com seus cabelos loiros e olhos negros, e eu
morria de ciúmes, pois eu era baixinha de cabelos curtos e castanhos, meus olhos
pequenos e azuis. Nada comparada a beleza de Carla.
Eu vivia trabalhando, mas nunca deixei de dar a devida
atenção a Fernando e para ser sincera eu daria minha vida por ele.
Quando viajei, mantinha contato com ele pelo Facebook. Para
boa desconfiada, como eu era, tinha ela adicionada também.
Nas primeiras semanas tudo ocorreu bem. Ele trabalhava num
escritório de contabilidade e eu fazia conferencias de vendas. Falávamos-nos
por sms e por Facebook o tempo todo.
Mas na terceira semana ele começou a ficar ocupado sempre na
mesma hora. Dizia que ia jogar futebol com os amigos. Eu não era ciumenta,
apenas paranóica.
Eu jamais toleraria uma traição. Mas eu confiava nele, mas
nela não.
Todos os dias ele saia. Tudo bem. Eu não poderia sufocá-lo,
mas comecei a perceber que Carla, a amiguinha dele saia no mesmo horário e
fazia questão de postar uma foto ou um status dizendo que tinha “coisas a
fazer”.
Alguns dias depois isso se repetiu. Logo eu não conseguia
mais dormir. Eu perguntava para ele onde ele estava indo, todo dia uma desculpa
diferente.
Faltavam alguns dias para eu voltar para casa, em torno de
uma semana.
Foi quando eu vi algo que ferveu meu sangue.
Carla postou uma foto com um colar. Um colar que eu havia
dado para Fernando, meu namorado.
Eles estavam se encontrando.
Como ele não a tinha adicionada no Facebook, certamente ele
não percebeu a foto.
Chorei desesperadamente. Ele estava me traindo!
Mas eu deveria pensar com calma. Para minha surpresa as
conferencias terminaram mais cedo e eu poderia voltar para casa. Claro que não
avisei Fernando e continuei o tratando normalmente.
Arrumei minhas coisas e voltei para casa. Fernando estava no
trabalho quando eu retornei.
Eu possuía amigos nas ruas, fiz alguns contatos e consegui
um revolver 38. Não era grande coisa, mas serviria.
Continuei falando com meu namorado por sms. Como sempre em
tal hora ele disse que iria sair. Concordei e fiquei esperando. Peguei a chave
da casa dele e antes dele cheguei a sua casa.
Ele não possuía vizinhos, pois era um loteamento novo.
Fiquei escondida.
As 16h ouvi a chave girando na fechadura. Ouvi risinhos.
Eram eles. Havia sangue nos meus olhos e minha vontade era de ter nas mãos.
Fiquei na lavanderia. Deixei eles ficarem a vontade.
Com luvas eu tinha o
38 já engatilhado.
Eu sempre tive um demônio em meu corpo, e Fernando o havia
despertado.
Com a porta da lavanderia entreaberta eu podia vê-los. Ele a
beijava ferozmente e ela retribuía. Não demorou muito para que eles ficassem
nus. Quando iam concluir o ato e sai da lavanderia com o revolver em punho. Adentrei o
quarto abruptamente e pigarreei.
O terror se estampou no rosto dos dois.
-Jéssica! – Fernando gritou enquanto se cobria.
Carla ria descaradamente.
.Olá amorzinho. – eu disse rindo e com os olhos turvos de
ódio.
Com a arma apontada para a cara deles eu me aproximei e
peguei Carla pelos cabeços loiros e fiz ela se ajoelhar a mim.
Ela gritava e implorava para mim não mata-la. Fernando
olhava tudo aterrorizado.
Meus olhos azuis faiscavam.
-É por esse lixo que você tem me trocado? Que mau gosto.
Ela chorava e o choro dela me deixava mais insana.
-Jess, por favor, foi um erro! Me perdoa! Mas não estraga
sua vida por isso! Não nos mate, por favor! – Fernando implorava.
-Eu matar vocês? Está louco? Nunca sujaria minhas mãos com
dois lixos como vocês!
-Então o que você vai fazer sua louca!? – Carla suplicava.
-Olha só, a ração de cachorro fala! – eu disse segurando
firme o cabelo dela.
-Eu vou acabar com vocês. – eu disse sorrindo.
-O que? – os dois gritaram.
-SIM! VOCÊS DOIS, RATOS IMUNDOS! - eu estava perdendo o controle.
Joguei Carla de volta para Fernando e engatilhei o 38. – acho
que eu terei que estourar a cabeça de vocês!
-Jéssica você está louca! – Fernando dizia.
-Não querido. Louca eu fui quando confiei em você. Eu daria minha vida
por você seu trapo! – as lágrimas escorriam de meus olhos.
-Me perdoa! Ele dizia.
Eu olhei para aqueles dois, o cara que eu iria me casar e a
melhor amiga dele. Nus na cama onde eu me entreguei a primeira vez para
Fernando. A raiva pulsava dentro de mim. Doía em minha alma a traição de
Fernando.
Pensei algumas vezes e decidi. Com a voz colérica, porém muito
sóbria eu disse:
-Eu não vou matar vocês.
Eles suspiraram aliviados.
-Obrigada minha anjinha! - Fernando dizia.
-Mas antes vamos acabar com isso sem mágoas. Sirva vinho
para vocês dois Carla.
-Não quero beber – ela disse.
-AGORA SUA CADELA! – Encostei a arma na cabeça dela.
Havia uma garrafa de vinho pela metade e dois copos, que
provavelmente o casal de traidores havia bebido. Com a arma na cabeça de Carla a
fiz servir duas taças. Ela entregou uma a Fernando e outra ficou com ela.
-Agora bebam. E sejam felizes. - eu disse.
-O que? – eles disseram em um uníssono.
-BEBAM! – Eu gritei. – TUDO!
E eles com medo da arma, obedeceram.
E ficaram me olhando. Levantei e liguei o rádio. O Led
Zeppelin soou por todo o recinto. Cretino! Até mesmo minha música favorita ele
ouvia com ela.
Sentei e fiquei os observando.
Passaram-se alguns minutos e eles ainda me olhavam sem
entender nada.
Então eu disse:
-Eu nunca mataria vocês... Vocês se mataram.
Nesse instante os dois começaram a se contorcer e ficar sem
ar. Eu via o pavor nos olhos nos dois e gargalhava.
Não demorou muito para o sangue começar a jorra da boca de
ambos e eles se contorceram até a morte.
Estrecnina no vinho. Sem digitais, sem provas nem
testemunhas.
Deixei o Led Zeppelin tocando e fui embora. Me certifiquei
de que ninguém havia me visto.
Depois disso fui a policia.
Contei que eu havia chegado de viagem e meu namorado não
havia aparecido no aeroporto. Que o telefone tocava e ninguém atendia e que eu
estava muito preocupada.
Eles perguntaram se eu havia ido a casa dele e eu disse que
sim, mas as portas estavam trancadas e dava apenas para ouvir uma música alta,
mas que eu insisti em bater na porta e que ninguém atendia. Eu chorava e
implorava por ajuda do policial.
Então eles foram comigo a casa. E arrombaram a porta.
A cena foi chocante. Meu namorado e a melhor amiga dele nus
jogados no chão mortos.
Oh eu não podia acreditar.
HAHA.
Sai como a pobre namorada traída. Mas mesmo assim eu chorei
no velório de Fernando. Coitadinha de mim.
Um tempo depois saiu o laudo da perícia. Envenenamento.
Concluíram que Carla havia matado Fernando, pois ele se
recusara a se separar de mim, e por desgosto havia se matado também.
Nunca mais confiei em ninguém depois disso. Mas segui minha
vida com muito sucesso e dinheiro farto.
Hoje tenho 86 anos, e a velhice me venceu e estou no meu
leito de morte.
Deixo essa carta, pois não gostaria de morrer com essa
história.
Nunca mais ninguém se atreveu a me trair.

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