Sobre um cavalo
Fui visitar a minha mãe naquele fim de tarde de
quinta-feira. Abri uma cerveja e acendi
um cigarro fazendo uma prece para que as coisas ficassem boas. Eu não queria
mais me lamentar, por mais que tudo que eu visse a minha volta, parecesse o
fundo do poço.
Livrando-me dos meus devaneios, meu tio chegou e sentou-se
do meu lado. Pediu-me um cigarro. Com pouco entusiasmo nos olhos eu alcancei o
maço para ele. Também ofereci a cerveja, que ele tomou em um gole demorado.
Ele olhou nos meus olhos e perguntou:
-Se tu estivesses puxando o seu cavalo, por um campo para
poupá-lo da viagem longa que teria mais a frente, mas por ventura o cavalo caísse
num buraco muito fundo, o que tu faria?
-Ah tio, eu ia deixar o cavalo para trás e ia seguir viagem
a pé. O que diabos eu iria poder fazer?
Ele sorriu.
-E tu tio o que farias?
Ele tragou o cigarro e disse:
-Eu jogaria terra no buraco.
-Enterraria o cavalo vivo? – eu disse espantada.
-Quando a terra começasse a cair no lombo do cavalo, ele se
sacudiria, a terra cairia no fundo do buraco e o cavalo iria ir pisando. Ao natural,
logo o buraco estaria coberto e o cavalo poderia sair com as próprias pernas e
sem muito esforço...
Eu fiquei olhando com uma expressão pensativa, mas ao mesmo
tempo sem entender o porquê da história do cavalo.
-Me vê mais um cigarro? – ele disse.
-Claro tio. –eu disse estendendo o maço novamente.
-Olha Patty, tem dias que gente olha em volta e tudo parece
nos jogar num buraco profundo, tu olhas pros lados e só vê escuridão. E as
pessoas lá fora, vão jogar areia em ti. Agora, se o cavalo ficasse parado,
apenas os vendo jogarem areia, ele ia acabar soterrado... Não deixa a areia te
enterrar. Sacude a areia e pisa nela, logo tu vai ver a luz lá de cima, do lado
de fora do buraco...
Ele disse isso e saiu. E eu fiquei limpando uma lágrima que
insistia em sair dos meus olhos cansados.
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