Sob a chuva e o céu the blue
Ela chegou em casa após aquele dia cansativo de trabalho.
Tinha a face fustigada pelo vento e a chuva, naquele fim de tarde.
Tossia muito, por conta de uma gripe mal curada, que talvez
já tivesse virado uma pneumonia misturada a sua notória asma crônica. Porém,
ela não ligava.
Sua maquiagem estava borrada, invadindo o rosto. Podia se
dizer que era por causa da chuva, mas na verdade ela estivera chorando.
Chorando por todas as coisas do mundo e por coisa alguma.
Ela se sentia algo putrefato. Queria correr sem rumo até
seus pés estarem escalpelados.
Todos perguntavam “hei como estás?” e ela sempre dizia “to
legal”. (Quando alguém pergunta como tu estás, na verdade eles nem querem
saber.)
Mas na verdade ela estava cansada. E um riso mordaz prendia
em sua garganta. Um riso que não tinha graça.
Vira-se tremendamente solitária. Mas afinal, nascemos sós e
iremos morrer sozinhos também.
Abriu a garrafa de uísque e fez menção de botar no copo, mas
repenso e tomou alguns goles direto do gargalo.
Acendeu um cigarro embora sua tosse ainda não tivesse
passado.
Deitou no chão e contemplou as paredes brancas de seu
apartamento vazio e frio.
Chorou. Sentiu-se culpada por chorar. Cansou-se e cansou de
se cansar.
Ela não sabia mais quem ela era ou que queria ser. Apenas pedia
e implorava por paz de espirito. Mas toda as vezes que abria os olhos sentia-se
inútil e esquecida. Abandonada por tudo e por todos.
Ela, naquele fim de tarde, onde a chuva tamborilava o
telhado de vidro de sua vida vazia, abafando assim, seu pranto descomunal. Soluços
irrompiam de seu peito e nada mais parecia ter sentido. Naquele fim de tarde,
ela que era canhota, segurou uma lâmina firme entre seus dedos cansados e abriu
um corte fundo em seu pulso direito. Viu o sangue escorrer por suas mãos, viu
ele lambendo o tapete persa de seu apartamento vazio. Ela não queria partir,
apenas queria que a dor cessasse.
Naquele fim de tarde, o fim chegou. e no chão do apartamento
vazio, eu podia ver aqueles olhos azuis que fitavam o chão sem nada ver.

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