REMORSO



Os dias seguem como tem de ser.
Ela não voltou para casa, não voltou para você.
O cachorro late, o carro bate no poste de iluminação.
O cotidiano segue, as pessoas não ligam para os ferimentos no seu coração.

Toma um gole de vodca, sem gelo.
Le o jornal, e pensa em fazer um apelo.
Para que tudo volte ao normal, para que não se sinta tão mal.
Quer consertar o passado, mas o tempo não é fácil, e ele agora já passou.

A bebida queima a garganta, os olhos e você.
Levanta da cama, e assiste TV.
Acende um cigarro, dá comida pro seu gato.
Você sobrevive e esquece-se de viver.

O telefone toca, você ignora,
Não quer que sintam pena, não quer consolação.
Você vislumbra as fotos, e relembra os fatos,
E quase perde a razão.

Sente o odor das flores de plástico.
Terra do cemitério em suas botas de couro.
Como um mau agouro,
Que te lembra de que ela não pode voltar.

Lá é frio onde ela está?
Você não pode saber.
Sente sua presença no cômodo vazio e chora,
E lembra que não disse que a amava, antes de ela morrer...

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