Jack


Ele sentia que estava sendo vigiado. Fechou todas as portas, janelas, cortinas e até mesmo tampou com jornal as frestas de sua casa velha.
Tremia de medo ou talvez fosse de frio. Jack não sabia mais. Apagou todas as luzes e entrou embaixo da mesa.
Mexia-se freneticamente pra frente e para trás, com os olhos fechados. Jack chorava desesperadamente.
Ele pensava “por que meu Deus, por que comigo?”, mas não havia respostas.
Já anoitecia, e ele sabia que menos hora, mais hora eles iam invadir a casa e acabar com a raça de Jack.
Ficava imaginando se usariam tortura ou seria apenas um tiro a queima roupa. Talvez eles botassem fogo nele, e ririam ao sentir o odor de carne humana queimando. 
Ou quem sabe, eles iriam arrancar os olhos de Jack, por ele ter visto demais ou arrancassem sua língua, por falar demais. O esquartejariam enquanto vivo? Culminando em sua morte apenas quando sua cabeça rolasse pelo chão? Quem sabe eles jogariam ácido nele, ou arrancariam dente por dente com um alicate... Talvez escalpelassem Jack, talvez o enterrasse vivo. Todas as formas de tortura juntas... 
Os pensamentos lúgubres rodeavam a cabeça de Jack, que chorava baixinho com a mão na boca para que eles não ouvissem.
Olhava para a corda pendurada no teto que pendia sobre a mesa e pensava no que fazer.
Fumava um cigarro atrás do outro e bebia o resto do café que havia no bule. Fazia dias que Jack não dormia. Ele estava apavorado e sozinho.
Há muito tempo ele estava sozinho. A casa rangia e nas paredes descascadas daquela tintura amarela o assustavam ainda mais. Havia apenas uma mesa, um sofá caindo aos pedaços e tudo era sombrio. 
Teriam eles descoberto o crime que Jack cometera? Mas como? Não haveria como!
Sim, Jack havia matado sua mãe. Tirado sua pele e jogado aos cães.
Ele ouvia os gritos de sua pobre mãe todas as noites, e por isso não dormia mais.
Foi quando eles começaram o ameaçar, sim eles haviam descoberto.
O que Jack faria? Para onde Jack fugiria? Ele não tinha a resposta!
Quando a noite caia, ele ouviu os ruídos lá fora. Como cães do inferno. Arranhavam a porta e arrancavam os jornais das frestas.
Jack sentia os olhos deles cravando em sua pele pálida.
Ele se mexia freneticamente. Eles estavam vindo! Eles iriam matá-lo!
Ele sabia o que fazer. 
Os barulhos eram ensurdecedores e as portas ameaçavam ruir.
“Jack, saia seu covarde! Iremos acabar com você” os gritos ficavam mais alto a cada segundo.
Ele chorava e tremia, e o desespero ficava enorme.
Então Jack subiu em cima da mesa. Não teria forças para encará-los.
Rapidamente envolveu seu pescoço na corda. Os gritos era ensurdecedores. “Jack seu covarde” os choros da sua mãe, Jack chorava também.
Então Jack pulou...
E o silencio se fez.
A mãe de Jack o encontrou enforcado, dentro de seu quarto. Eram apenas eles dois, e ela nada pode fazer, pois era tarde demais. Seu quarto era limpo, de paredes amarelas claras. Jack pulara de cima da mesa do computador. O ambiente limpo e claro se tornara vazio e funesto.
Hoje faz 10 anos que Jack se foi, e os bandidos que estavam em sua cabeça silenciaram. 
Não havia crime, não havia gritos, não havia ninguém atrás dele por vingança. Apenas insanidade na cabeça de um jovem de 21 anos.
Sua mãe lamenta até hoje por não poder ter feito nada pelo filho quando sua psicose chegou ao limite...
O que ela não sabe é que os gritos continuam com Jack... Lá no inferno.

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