A vizinha


A vizinha do apartamento ao lado ainda iria me tirar do sério. Todos os dias ela vinha fazer gentilezas ao meu marido. Um dia um bolo, no outro café.
Eu reclamava do modo em que ela estava em nossa vida e meu marido apenas dizia que eu estava louca, que meus ciúmes iram passar dos limites. “Somos apenas bons amigos” ele dizia.
Mas no fundo eu desconfiava de algo. Toda vez que ela passava com roupas provocantes pelo corredor e lançava aquele olhar cínico, eu tinha vontade de dar uma surra nela.
Mas eu respirava e contava até dez na tentativa de ficar calma.
Certa noite, eu tive que ficar até mais tarde no trabalho por conta de uma reunião. O frio se aproximava e os dias quentes iam se extinguindo pouco a pouco. Naquela noite, o vento anuncia chuva e tudo o que eu queria era chegar em casa e tomar um banho quente.
Estacionei meu carro na garagem e subi com apressada. Subi de elevador, pois estava muito cansada para subir escadas.
Nosso apartamento ficava no terceiro andar. Chegando no corredor do meu apartamento, percebi que as luzes da minha casa estavam todas apagadas. Achei estranho, afinal meu marido já devia estar em casa. Fui andando lentamente. As luzes do apartamento da vizinha estavam ligadas, ouvi risinhos lá dentro. Esperei.
Dez minutos se passaram. A porta se abriu e meu marido saiu de dentro do apartamento da vizinha, com os cabelos molhados e um sorrido bobo no rosto.
Meus olhos turvaram de ódio.
Eu não conseguia nem abrir a porta. Não acertava a fechadura.
Ele veio atrás de mim, deixei ele entrar.
Então surtei:
-Luiz Henrique! O que diabos você estava fazendo na casa daquela vadia?
-Jéssica, eu posso explicar! – ele dizia atônito.
-Que criativo! Eu já sabia! Eu já sabia! Você está me traindo seu desgraçado!
-Não é nada disso!
-Não quero explicações! – eu chorava e atirava coisas nele.
-Então não vou explicar nada, eu vou embora!
Ele foi juntando as coisas dele e foi saindo. Eu não disse uma palavra, mas estava dilacerada por dentro. No corredor vi Luiz Henrique indo embora. Quando olhei para trás vi o sorriso cínico da vizinha.
Entrei para meu apartamento  e refleti.
Todos os dias eu encontrava a vizinha na garagem, pois chegávamos praticamente a mesma hora.
Teria troco, eu não deixaria barato. Luiz Henrique havia ido embora há uma semana. A vizinha passava por mim e ria.
No cair da noite de uma sexta, eu sai mais cedo do trabalho. Deixei meu carro, que era um Pálio Adventure preto, estacionado do lado de fora do prédio. A chuva caia forte, os ventos uivavam e caiam trovões clareando o interior da garagem.
Vi ela chegando de carona com uma amiga. Ela sempre entrava pela garagem. Quando ela estava no meio da garagem eu desliguei as luzes.
Ela vficou em pânico procurando a saída. As luzes de emergência se acenderam. Só havia nós duas na garagem.
Com as mãos tateando o nada, a vizinha veio se aproximando do carro onde eu estava escondida. Quando ela ficou de costas para mim, com um só golpe eu a derrubei. Eu tinha um pedaço roliço de madeira nas mãos com sangue da vizinha na extremidade.
Botei a vizinha inerte em um grande saco preto. Joguei dentro de uma mala grande de viagem e carreguei  até meu carro. Abri o porta-malas e a botei dentro.
Dirigi na chuva até as extremidades da cidade, onde haviam florestas e um rio que serpenteava por dentro das arvores.
Na estrada de chão batido, eu podia ouvir as gotas de chuva tamborilar a lataria do meu carro.
Adentrei uma estradinha que levava até uma casa abandonada. Em plena chuva, abri o porta-malas e verifiquei se a vizinha ainda estava inconsciente.
A tirei de dentro do porta-malas e em seguida a tirei de dentro da mala. Ela estava toda mole, o que facilitaria meu trabalho.
Com cordas amarrei seus braços e pernas. Fiz nós cegos que quase cortavam a pele branca da vizinha. Amarrei a outra ponta da corda no para-choque do meu carro. Verifiquei se estava bem firme. A chuva caia cada vez mais forte.
Com tapas, acordei a vizinha que me olhou assustada com seus patéticos olhos verdes.
Ela gritava e esperneava, mas a corda limitava seus movimentos e ninguém a ouviria gritar, pois a chuva estava muito forte, e o barulho do rio abafava seus gritos.
A noite caia. Eu não disse nada.
Ela gritava e implorava:
-Por favor, Jéssica! Me solte! Eu nunca mais olho pro Luiz, eu juro! Por favor!
Seus cabelos loiros se misturavam as suas lagrimas e sua maquiagem escura borrava seu rosto.
Eu soltei um riso de escárnio e nada disse.
Abri a porta do carro e acelerei.
Subi morro acima e podia sentir o corpo da garota batendo nas pedras da rua. Nos primeiros dez minutos eu ainda podia ouvir os gritos dela. Nos minutos seguintes, apenas o barulho dos seus ossos batendo no chão.
Andei por horas.
Quando finalmente fiquei cansada, estacionei o carro em um trilho no meio do mato.
Desamarrei as cordas do que sobrou do resto da vizinha. Ela estava escalpelada, banhada em sangue, com os ossos expostos, com barro.
Era uma figura grotesca.
Com luvas nas mãos eu amarrei uma grande pedra no corpo da vizinha, arrastei-a para dentro do rio e vi o corpo afundando.
Limpei os vestígios de meu carro e dirigi sem rumo por ai, talvez eu encontrasse Luiz Henrique para dizer o quanto eu o desprezo, mas por hora, meu trabalho estava feito.

Comentários

Postar um comentário